quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Guarda-Roupa de Nuvens


Há nuvens para tudo
para todos os gostos.
Ou barcos parados
no céu ondulado
das tardes de Agosto
ou lenços rasgados
pelos nervos do vento
dum Maio indisposto.

Há nuvens para tudo
em nuvens havendo.
Ou damas rosadas
pisando azinhagas
dos fins de Setembro
ou velhas barbaças
deitando fumaças
por todo o Dezembro.

Há nuvens para tudo
rolando nos olhos.
Comboio correndo,
camisas de folhos,
leões indolentes,
corujas, serpentes,
cascatas, torrentes,
rochedos e escolhos.
Há nuvens para tudo
e, às vezes, sem querer,
um céu branco e mudo,
cortina em veludo,
que não deixa ver
as nuvens desnudas
que ensaiam e mudam
o ser e o parecer
para o baile de entrudo
do nosso prazer.

Poema de António Torrado
Fonte: "Conto estrelas em ti" Edições Campo de Letras.

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