sábado, 13 de março de 2010

A Janela e o Barco


A janela abriu-se e viu, no rio,
um barco à vela.
Janela: Leva-me contigo.
Barco: Espera tu por mim.
Janela: Fica tu comigo.
Barco: Não consigo.

E partiu
rio acima.
Embaciaram-se os vidros da janela
que soltou as cortinas
a acenar, a acenar
para a esteira de espuma do barco à vela
a escoar-se, na neblina.

Tempo passou.

O barco pois claro que voltou.
Tinha de voltar.
Mal o viu
na esquina do olhar
a janela abriu-se de par em par.

Esta história chegou
ao tempo de acabar,
mas cá para mim, disse a janela,
nunca vai terminar.
Eu sigo, disse o barco.
Eu fico, disse a janela.
E gritou:
Estás ancorado no meu olhar.
As minhas vidraças embaciadas
são o teu lugar cativo.
Para onde quer que vás
hás-de ficar
comigo.

António Torrado

Sem comentários: