segunda-feira, 14 de maio de 2012

Infância

Estava na hora de se ir deitar. Não lhe apetecia nada, mas tinha de ser. Ou então teria de ouvir a voz severa da mãe a ralhar com ele. O que ele gostava era o beijo quente que a mãe lhe dava antes de ir dormir. Às vezes, a mãe deitava-se ao lado dele, aquencendo-lhe os pezinhos e aconchegando-lhe as mãozinhas. Por fim levava a luz todas as vezes, ficando um escuro assustador que ele tinha de combater.
Acordou contente, não sabia porquê, mas estava feliz. Seria por ter sonhado? Não se lembrava de nada, mas sabia. Ele sabia que tinha sonhado. Mas o sonho fugiu-lhe da alma deixando para trás o rasto de um fugitivo.
Estava um sol de arrasar naquela manhã de segunda-feira. A mãe ainda não tinha vindo acordá-lo para ir para a escola. Isso significava que podia ficar mais um bocadinho na cama. Entretanto, tentava encontrar o rasto que o sonho lhe tinha deixado na alma.
Chegara a mãe, imponente, para o ir acordar. Não lhe apetecia ir para escola, logo no primeiro dia de aulas, porque o sonho estava-lhe a ocupar grande parte do pensamento. Mas ignorou o desejo e foi com a mãe para o arranjar. Achava aquele uniforme horrível, feio e apertado. Estava um pouco ansioso para poder ver os seus colegas, conhecer a sua nova escola.
Chegara à escola. Ele não queria despedir-se da mãe, mas a mãe avançou antes que ele pudesse dizer alguma coisa:
-Vamos lá, vais ver que vai correr tudo bem! -disse a mãe com aquele sorriso reconfortante que ele conhecia muito bem.
Sentia um pequeno receio do que podia acontecer, mas depois lembrou-se do sorriso da mãe e ficou mais calmo. A mochila estava pesada.
A mãe acompanhou-o até a sala e lá o deixou. Deu-lhe um beijo. Quando a viu ir embora, foi como visse o sol por-se no horizonte, deixando-o só. Agora, deparava-se com a porta da sala à sua frente. Bateu à porta.

Sem comentários: